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Escritos de Eva

Eva diz o que sonha (e não só) sem alinhamento a políticas ou crenças conformes às instituições que conhecemos. Momentos de leveza, felicidade ou inspiração para melhorar cada dia com bons pensamentos. Um texto, uma imagem... para todas as idades

Eva diz o que sonha (e não só) sem alinhamento a políticas ou crenças conformes às instituições que conhecemos. Momentos de leveza, felicidade ou inspiração para melhorar cada dia com bons pensamentos. Um texto, uma imagem... para todas as idades

Escritos de Eva

27
Set10

Estou onde?

eva

- inguém me compreende! Ninguém me acompanha seja com amizade ou consideração no trabalho. Parece que não faço nada direito ou então nada que seja visível, pois parece que nem me vêem.

- E… se calhar não vêem mesmo…

- Eu tento ajudar, apresso-me para chegar a tempo a todos os meus compromissos e só falta fecharem-me a porta na cara.

- Porque se calhar não vêem mesmo…

- Vou a casa e nem me ligam, não me dão comida, nem perguntam se estou bem.

- Se calhar não te percebem…

- No emprego é exactamente igual.

- Porque se calhar não te percebem…

- Vou na rua e só falta atropelarem-me e nem param para pedir desculpa que seja.

- Pois, se calhar não vêem mesmo…

- Quando encontro alguém conhecido temos uma conversa de surdos e assim que pode vai embora sem se despedir, nem nada.

- Pois, se calhar não te percebem…

- Mas isso… É assim: ou eles ou eu estamos a viver noutro mundo, porque pareço invisível para eles.

- Para todos?

- Não, não. Alguns vêem-me e até são simpáticos e falam comigo, mas a esses não conheço eu.

- Porque não fazes novas amizades com esses?

- Porque não os conheço, já te disse!

- E a mim conheces?

- Não! Pois não?!

- Porque falas comigo, então?

- Porque… não sei… se calhar porque agora preciso mesmo de falar com alguém que me compreenda e tu pareces compreender-me. E vês-me, não vês?

- Eu vejo-te perfeitamente, mas admito que a maioria pode não conseguir ver-te. Já agora vês essa senhora aí à tua esquerda?

- Mãe! Que alegria! Ohhh! Que alegria tão grande! Se soubesse como me tenho sentido só… Vamos onde? A minha casa é para aquele lado, não se lembra? Ahh! Mas agora me lembro, a senhora já morreu há muitos anos, que faz aqui? Não foi para o céu? Estou onde? Ohhh!

 

25
Fev10

Paisagens

eva

s corredores a princípio são escuros, mas se nos afoitarmos e munirmos de uma luz, um archote que ilumine o nosso caminhar chegamos confortavelmente ao nosso destino, sem sequer tropeçar.

Depois de percorrer metade da extensão de alguns corredores começa a vislumbrar-se uma luz ténue.
É pela perseverança que chegamos ao fim e damos de caras com uma luz tão esplendorosa quanto forte, que nos leva a fechar os olhos de imediato.
Timidamente recomeçamos a olhar e observar em redor. Observamos então um lago branco.
- Branco?
- Sim, branco. Esquisito?
- Muito. Nunca vi, ou seria branco pela impressão da água rasa?
- Não sei porque não se via água nenhuma, mas vapores e no meio deles desenhava-se uma passagem com chão de ferro. Aliás uma armação lindíssima, como as de ferro trabalhado. A questão é que esta passagem não tinha a cor do ferro, mas tal parecia pela sua consistência.
- Era de que cor?
- Era dourado e podia pisar-se com segurança para passar ao outro lado. Depois seguíamos até encontrar pleno céu aberto e um dia cheio de Sol, com todo o calor que irradia em dias quentes. Uma brisa acordava-nos da aventura e, à vista, desenhava-se agora uma enorme construção em pedra, com arcos, ogivas e chão todo em pedra trabalhada linearmente, portanto em formas rectilíneas.
- Era belo?
- Era lindíssimo e constituía o nosso refúgio naquelas alturas, porque estávamos no cimo de um monte, com uma paisagem deslumbrante de céu e mar muito azuis.
- E depois?
- Depois regressámos às nossas vidinhas, com a esperança de poder fazê-las brilhar de modo parecido – em arte, fortaleza, espaço, arejamento e beleza brilhante… mas com a consciência que será muito difícil.
- Mas não impossível?
- Pois, impossível não, apenas muito difícil!
 
27
Set08

Paralelo inacabado VII

eva

Árvores altas, luzes azuis e rosas em vários tons, lembram o céu do entardecer.
No meio, a luz branca ofusca e mostra um caminho novo.
Vai dar a um elefante com uma meia-lua brilhante e prateada na testa e, depois, vê-se um cavalo com uma estrela branca.
A estrela cresce e abrange toda a tela da visão.
E, de seguida, entramos nós por ela, ou será ela que nos envolve…
É a tal luz branca!
Rosas nacaradas vão aparecendo como fagulhas (ou raios laser) pelo espaço que nos circunda.
- Se somos muitos? Não, nem por isso… mas vamos andando devagar, na expectativa de mais maravilhas.
- …!
- …!
- Então?
- Então o quê?
- E depois…
- Ah, sim! Depois pedimos um saquinho e escolhemos os doces à pinça (ou à peça) para trazer. Nem calculas – tudo brilhante e docinho.

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Barbara Paleczny - Enlarge The Space of Your Tent
Imagem retirada da net

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Disse  Bertrand Russell:  Aquilo que os homens de facto querem não é o conhecimento, mas a certeza !
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05
Abr08

Visão

eva
Roupagens – e digo roupagens porque parecem túnicas sobrepostas e até aos pés. São azuis, verdes, rosas e amarelo em tons claros.
Parecem estar com o Sol e não se consegue olhar directamente.
Passam... como que esvoaçam ali e aqui mesmo.
O que são? São lindas! São figuras muito especiais.
Fazem lembrar os vidrinhos dos caleidoscópios e o maravilhoso que era observá-los quando apareceram há muitos, muitos anos.
Custava deixar de olhar os tubos ou deixar de rodar e de ver as cores.
Eram maravilhas da visão. Ou a visão que se encantava.
Tão simples... tão belos.
A simplicidade encanta porque é, sem dúvida, sem inquietação.
Já não há mais nada... O que se vê é tudo o que interessa ver.
E o resto... olhem, o resto é paisagem!
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Imagem retirada da net
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Disse  Nelson Marins :  Qual a figura verdadeira, a real, a mais real, a mais verdadeira, a realmente verdadeira, leitor ortodoxo? A resposta à questão é: todas. Porque só podemos perceber o que podemos perceber!
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05
Nov07

Reflexos

eva
Quartzos e cristais em pedras facetadas, colares, pulseiras… montras e lojas cheias destas peças coloridas e brilhantes.
Não são joalharias, são lojas de pedras semi-preciosas, trabalhadas para ornamento.
Peças lindíssimas e, como sempre, a beleza dá outro lustro aos nossos dias.
Materialidades que imitam as belezas naturais – o brilho do sol, o azul das águas, o azul-escuro da profundidade ou o verde-claro da água no chão de areia.
O rosa e o alaranjado das flores podem ser vistos através de caleidoscópios com os vidros e cristais.
Há também os facetados que multiplicam a luz em milhares de reflexos diferentes.
Luas e estrelas tão brancas como nuvens.
Assim, a espreitar estas coisas feitas pelo homem, se passou uma tarde.
A rua, movimentada como antes, é agora olhada como se trouxéssemos em nós o caleidoscópio das lojas.
O céu, o ar... parecem igualmente brilhantes e cheios de reflexos, conforme as cores dos carros estacionados ou das roupas das pessoas que passam. 
Será um esforço muito grande mas parece valer a pena - essa tentativa de tentar ver assim tudo o que nos rodeia.
E os momentos mais banais ou desagradáveis podemos deixá-los a preto e branco, até os conseguirmos transferir para o nosso caleidoscópio imaginário.
Será então mais um milagre da cor, desta vez na nossa própria vida. 
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24
Mai07

O pormenor e o todo

eva
24 de maio de 2007

Numa exposição de arte, pintura e escultura, duas pintoras vão parando e observando cada obra com toda a minúcia.
- Esta, da paisagem com as pessoas em alegre piquenique, dá-me vontade de entrar lá e juntar-me ao grupo.
- Já não se usa esse realismo todo. Até parece mal, tanto pormenor.
- Que disparate! A arte e os estilos, quando têm qualidade, não passam de moda. Eu gosto do realismo.
- Bem que eu te digo que esse é um dos teus problemas. Agarras-te a pormenores que só distraem da noção de conjunto.
- Mas a noção de conjunto só existe por causa da soma dos pormenores.
- Ai, ai, ai! Por vezes os pormenores alteram a ideia da pintura. Algumas pessoas, ou porque gostam, ou porque desgostam, ficam a olhar para um determinado pormenor e dali já não conseguem avançar para ver mais nada.
- Tudo é possível ser ultrapassado, de ser transformado.
- Ah sim? Então por exemplo: este fato é garrido e tem estes desenhos ainda mais chamativos. Como é possível ultrapassá-los, podes dizer?
- Ora, inventa que ele é uma túnica em tecido muito fino e vaporoso. A figura é logo outra se esbateres a mesma cor nesse esvoaçar do tecido.
- Visto assim, é verdade, fica outra. Mas também digo que é preciso ter essa tua capacidade. A maior parte das pessoas não consegue soltar-se das amarras do pormenor para atingir o todo que o artista previu na sua obra.
- O que interessa é mostrar o nosso melhor e partilhá-lo com os outros.
09
Abr07

Ambiências

eva
9 de abril de 2007

Uma sala com imensas flores vermelhas a esvoaçar ou a flutuar no ar.
Movem-se devagar de um lado para o outro, ora subindo, ora descendo.
Lindo, lindíssimo de ver!
São envolvidas por pequenas estrelas douradas que as acompanham nos seus movimentos.
A sala agora está vazia mas, mais logo, vai ter gente para ouvir uma conferência.
Pergunto-me se elas verão a sala como eu, porque apenas basta estar atento.
Isto é engraçado. É uma visão paralela: é como uma projecção de fundo na sala onde as pessoas vão entrando e inter-relacionando com o tal paralelismo.
Costuma dizer-se que basta um que perceba e já foi útil o trabalho.
Toda esta beleza e grandiosidade pode ser dada também por efeitos de projecções computorizadas que, sem grandes custos, fazem milagres.
Por outro lado, faz pena se as pessoas não as observarem.
Acima de tudo, deveriam gostar de pertencer por algumas horas a este ambiente, tão florido e cheio de cores.
Lindíssimo, não me canso de o repetir e de olhar para isto tudo.
Até a sala parece grandiosa.
Há pessoas que têm o dom de embelezar tudo aquilo em que tocam.
Um dom de harmonizar tudo e todos.
Felizes os que convivem com pessoas assim!
14
Jul06

Compreensão

eva
14 de julho de 2006

Cores e mais cores. As cores do arco-íris e mais tonalidades.
Paletas de tons da mesma cor. De cada cor.
Impossível escolher a mais bonita.
No meio delas, dois olhos começam a surgir. Entre admirados e tristes.
Algo desamparados no tempo e, sobretudo, no lugar.
Tento explicar-lhes que o melhor era estarem no corpo a que pertencem.
Mas os olhos dizem que não. Não, por duas razões - não sabem onde está o seu corpo e não sabem porque estão ali.
De qualquer modo, ali está-se bem e é tudo cheio de cores em matizes que nunca aqueles olhos viram. E lá vão eles dar uma volta por ali.
Vou à procura do corpo, que isto está a ficar surrealista.
Ora bem, cá está ele. E, claro, meio aparvalhado à espera que os olhos voltem.
O problema é que eles não querem vir. Ou já não voltam.
Parece que entendeu. Sim, está a relaxar e vai dormir.
Voltamos então à procura dos olhos.
Meu Deus, que velocidade.
Bem, como sempre, o que é bom (ou bonito) apreende-se depressa.
Bem hajam no seu vôo.

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