Uma questão de tempo e civilidade
- stou farto de ler e ouvir falar de tanta guerra, guerrilha, combates daqui e dali, violência de todo o género…
- E que gostarias que falassem, de paraísos? Só dos fiscais é que ouves falar.
- Pois é isso que dizes, apenas se ouve o que atormenta a mente, o dia. Pois que nós, pequenos operários, nada podemos fazer.
- Pois, e daí o tormento emocional em que nos lançam essas notícias.
- Então que fazer senão ter ouvidos moucos e olhos que apenas abrem para o que parece mais digno de observar.
- No entanto, as notícias são a realidade humana aqui e fora daqui.
- Nem por isso, porque são notícias bem pequeninas as descobertas científicas e tecnológicas que podem ajudar os doentes, os mais necessitados ou a tornar mais ágil e pertinente a máquina burocrática que empecilha a vida de todos os que têm urgência em resolver um problema.
- Mas essas notícias não vendem. As pessoas gostam de emoções fortes, daquelas que mexem com a sua adrenalina, dão vontade amalucada de se movimentar, fazer coisas que em estado de calma seriam incapazes de fazer. Porque isso lhes permite sentir-se como heróis.
- Nem que seja a falar maldosamente ou em recriminação?
- Tornam-se importantes pelos momentos em que são ouvidos. É assim na maioria das vezes.
- Ou seja, ainda ninguém quer ouvir o silêncio em si mesmo…
- Poucos, sem dúvida. Mas creio que será uma questão de tempo e civilidade.