Todos queremos ser felizes…
- Alguns não!
- Como?
- Alguns apenas querem sobreviver protegendo a sua família e todos os que vão encontrando e esquecendo-se, na maior parte das vezes, de si próprios, numa abnegação total, a ponto de arriscarem a sua vida pelos outros.
- Mas esses são apenas alguns…
- Com certeza que sim, mas o seu valor, mesmo ignorado da maioria, é grandioso e quando olhamos para esses seres, a luz que resplandece da sua figura ofuscando tudo em redor. Parecem um holofote gigante e, não raras vezes, a sua figura física é diminuta ao olhar vulgar.
- Mas esses são apenas alguns, repito.
- O que quero dizer é que se esses existem no meio de nós, disto tudo que às vezes parece nem ter uma explicação racional e humana-humanista... Então, é possível que todos nos possamos transformar e regenerar nessa plástica mental.
- Plástica?
- Em formulações mentais muito mais adiantadas que o vulgar que se encontra no dia-a-dia. Esses simbolizam o que qualquer humano pode vir a ser, pode vir a conseguir…
- Isso são sonhos!
- Já diz o poema – quando um homem sonha o mundo pula e avança…
- Só quando o sonho é construtivo.
- Se há a hipótese, deve haver a prática.
- E bastaria sonhar, na tua opinião?
- Poderia, pelo menos, começar pelo sonho bem imaginado, bem traçado em programa de regeneração.
- Como os tratamentos para os viciados…
- Como qualquer terapia reconstituinte do ser ideal.
- Se é ideal…
- Se é ideal – se existe a ideia – então existe a sua possibilidade real.
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Todos vão entrando nos corredores das bancadas.
É um anfiteatro enorme, ou campo de jogos de interior, com bancadas em elipse.
O espectáculo vai começar. Alinham-se, acotovelam-se e empurram-se todas as pessoas – quer queiram quer não.
São de diferentes idade, classes socais e instrução.
Estão melhor ou pior vestidos e arranjados. Têm melhores ou piores hábitos e educação.
Nessa boa mistura, todos vão tomando os seus lugares e uma vez sentados, só podem sair pelo outro lado, em fila e conforme entraram porque os espaços são exíguos.
Sentados, vão olhando e observando que já ali estiveram.
Sim, já ali estiveram, mas em circunstâncias muito tristes.
Eles estavam, da outra vez, na base do anfiteatro, ou no tal campo de jogos, e eram então os joguetes doutros que mandavam.
Estes estavam, nessa altura, nas bancadas a rir e a pedir bis, ou repetições, entre gargalhadas.
Eles foram, todos, ali sacrificados, torturados e martirizados, com a família (maridos, esposas e filhos) a verem e a serem martirizados a seguir, um por um.
Hoje, os antigos mandantes-carrascos reuniram-nos todos ali para lhes pedir perdão.
A dúvida deles, que tão sofridos ainda estão, é se conseguem sequer sentir algo, para poder perdoar.
A destruição quando é tão forte, quando além de nós leva os que mais amamos, parece que não deixa nada nessa aniquilação que possa servir de semente para germinar o perdão e a caridade.
Mesmo nos melhores corações é preciso um tempo – um tempo celeste… 
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Partidas ou partilhas de terras e de coisas, de casas e até de fotografias são, geralmente, um horror porque descobrimos quem é quem.

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Imagem retirada da net.

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