O tempo foge
O tempo foge. Foge, escorrega-me entre os dedos.
Preciso de mais minutos, de horas… para fazer tudo o que preciso e quero fazer.
Mas, no dia a seguir é o mesmo drama. Acabam as horas de trabalho, porque já não tenho forças para mais, e deixo demasiado trabalho para continuar no dia seguinte… se puder… se der…
- Então é porque queres fazer demasiado para cada dia ou porque não fazes um horário correcto para cada dia activo. E não te esqueças de reservar um dia para descansar do trabalho.
- Porquê? Pois se já disse que o tempo não chega…
- Porque é necessário relaxar e também um certo afastamento dos dias comuns. E, assim, o indivíduo obtém o discernimento crítico e útil ao trabalho feito e pode conseguir o refazimento necessário, de forças físicas, para voltar ao trabalho.
- Queres dizer que o trabalho rende mais com intervalos?
- Os intervalos são isso mesmo – intervalo entre partes de uma tarefa ou entre várias tarefas.
- Mas há quem esteja sempre no intervalo…
- Pois há! Até há quem trabalhe apenas enquanto intervala de variadas distracções, mas não é esse o caso que estamos a tratar. Falamos de pessoas compenetradas das suas responsabilidades e cujas capacidades remetem para diversas tarefas, por vezes tantas, que não podem controlar facilmente os tempos que necessitam para o descanso.
- Daí os exageros e os esgotamentos…
- Daí os erros subsequentes que passam por esses estados, mas também por falhas de atenção à família, aos amigos ou àqueles que se aproximam para ouvir uma palavra amiga, ou carinhosa, para si ou da situação que atravessa – infeliz ou feliz.
- Quem mais trabalha isola-se, então…
- O isolamento pode ser uma consequência do trabalho excessivo mas o desequilíbrio, nessa altura, pode já se ter instalado e o isolamento não ser mais que uma atitude instintiva de preservar a produção de trabalho com a maior concentração das suas forças.
- E não percebe já a necessidade do descanso?
- Não percebe já nada a não ser a necessidade dos resultados, porque a pressão que sente é enorme.
- E então?
- Então todos precisamos parar, ao fim do dia ou quando começamos o dia, e reflectir sobre o melhor modo de nos equilibrarmos com as nossas responsabilidades pessoais e as tarefas que temos entre mãos. Tudo é passível de equilíbrio e para esse estado nos devemos esforçar mais do que para o resto que, nessa altura, virá por acréscimo e natural e qualitativamente.
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Disse Nicolas Boileau: O tempo foge e arrasta-nos consigo: o momento em que falo já está longe de mim !
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