O paraíso somos nós
final tenho andado toda a vida à procura e era eu.
O paraíso que queria estava em mim.
O bem-estar que queria sentir era eu mesmo que o podia sentir.
A felicidade podia senti-la em qualquer altura, a todo instante.
E contudo… não a conseguia alcançar.
Mesmo entendendo tanta coisa, nada me era útil.
Apenas o vazio continuava.
O horror, o pânico e o pavor eram tremores físicos bem sentidos.
A jovialidade, a esperança, o optimismo, ficavam cada vez mais encobertas.
Alegria, risos, paz, deveriam ter-se escondido muito bem porque não conseguia achá-los em lado algum.
Era a secura! Secura na boca, na pele, nos órgãos, no corpo…
Secura nos pensamentos.
E a luz continuava lá, lá muito ao longe, como num horizonte alto.
Como a mostrar que era possível e real. Que, apesar de tudo, ela continuaria ali.
Exactamente no mesmo sítio, acontecesse o que acontecesse a escuridão nunca seria total.
O corpo oco não era real, mas ela – luz – era, porque permanecia.
No dia que pudesse e quisesse ela iluminaria mais e mais.
Iluminaria sem limites a mim ou a quem a quisesse sentir.
Era só dar-lhe atenção!
Mais atenção que a todo o resto.
Fazer que ela existisse completamente em nós mesmos.
Deixar sair o sofrimento à rua. Varrê-lo todo junto e lavá-lo com muita água limpa.
A água das lágrimas iria também com todo esse sofrimento.
Então a tal luz de longe viria aquecer.
E como na natureza, dessa base estrumada e molhada, o ser renasceria.
Um renascer lindo, límpido e brilhante.
Porque o sofrimento já tinha sido despejado e tudo o que viesse iria ser como uma paragem de comboio.
Paragens obrigatórias umas, outras nem por isso, dependeriam da coragem e do cansaço.
O ser, nessa altura, sabe que no fim do campo há um jardim em que as flores e a beleza são pessoais e dependem do amor que cada um ainda terá para doar.
…
- Ena! Tantas flores para quê se apenas tens um niquinho de terra?
- Vamos ver quantas nascerão lá! Vai ser o meu jardim, o exterior e o interior em simultâneo.
- Mas é impossível nascerem todas, vai ser um desperdício, vais ver.
- Tu é que vais ver, e perceber, o quanto temos que trabalhar para conseguir obter algo de útil. É mais ou menos equivalente ao percurso da azeitona para o azeite.
- Hã?