Morreste?
- orreste?
- Não, apenas mudei de onda.
- Então… morreste?
- Acho que não! Vejo e oiço tudo igual.
- Isso é porque deves estar preocupado com alguma coisa importante para ti, que deixaste por fazer.
- Queria defender a minha família e acho que já não vou conseguir, pois não?
- Eles passam o que têm que passar, como tu passaste.
- Mas não percebem, não vêem as sombras, o horror, as atrocidades que sofrem.
- Todos passamos o que temos que passar para saldar dívidas de nossas próprias acções e palavras, até de nossos pensamentos.
- Mas onde está essa misericórdia divina que tantos apregoam?
- Deve estar nos mesmos desígnios divinos a que pertence.
- Também não sabes, não é?
- Às vezes com tanta desgraça, tanto ódio, tanto horror semeado e parecendo um disparate… advém a dúvida.
- Qual dúvida?
- Se o Sol quando nasce é mesmo para todos.
- Bem, daqui posso responder-te que é. O que se deveria acrescentar era que o Sol nasce para todos os que tiverem saldado as falhas do seu passado e do presente.
- Falhas?
- Falhas no bem que poderiam ter pensado, falado ou feito e que não fizeram.
- Às vezes o horror fere tanto que não sobra muito.
- Devemos tentar sempre que sobre de nós a pureza após a maceração de tudo o que nos atinge. Pelo menos isso, pairarmos na nossa pureza.