Terça-feira, 20 de Abril de 2010
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amos para o hospital?
- Fazer o quê? Tens alguma consulta ou problema para resolver lá?
- Qualquer coisa. Gosto dos jardins de lá, acho os hospitais uma escola.
- Hã? Não devem ser os mesmos hospitais a que vou quando estou doente.
- É, é, pois se nem há doutros!
- Então, não percebo.
- Acho que são escolas de vida, porque chegamos lá mal porque estamos doentes de alguma coisa que, regra geral, nem sabemos o que é e, depois de alguns dias, saímos de lá com outra visão sobre o nosso problema e a vida.
- E a vida?
- Sim. O relacionamento entre pessoas muda completamente…
- Oh, se muda!
- Sim, percebemos que não somos nada, que o nosso corpo é importante para podermos viver desembaraçadamente a vida, sem sobrecarregar os outros e sobrevivendo o melhor possível.
- Queres dizer que não damos valor à saúde que temos?
- Quero dizer que podemos reconhecer, demasiado tarde, que a saúde que temos não é para sempre, nem sequer tem garantia. Quero dizer que nos cabe a nós cuidarmos do nosso corpo o melhor que soubermos e nos formos instruindo para tal.
- Temos a responsabilidade de ajudar à nossa saúde.
- Enfim, a responsabilidade de sermos tão independentes quanto possível…
Quarta-feira, 24 de Junho de 2009
Aparecem vários volantes num painel enorme junto de um vidro – pára-brisas – enormíssimo. Gigantesco!
Somos vários ali acomodados e com possibilidade de ver as zonas e paisagens por onde vamos passando.
Ouve-se conversar, mas não se percebe a conversação.
Parece que atravessamos, agora, uma zona minada, porque vêem-se explosões um pouco por todo o lado.
Não, afinal não são explosões… são… parecem astros luminosos que passam e iluminam tudo à volta. Por isso dá ideia de explodirem.
Não é noite, mas está escuro e essas luzes dão jeito para perceber por onde vamos. Ouvem-se trocas de informação sobre o trajecto e as tarefas.
Depois… bem, depois…
- Avô, não podes parar agora, conta-me o resto.
- Mas estou um pouco ensonado e cansado, por isso vou abreviar. Depois, chegaram a uma terra muito bonita e foram directamente para o edifício Escola ouvir as aulas. Era um edifício branco e importante.
- Mas, mas… estou de férias. Todos estamos de férias, como é que eles vão ter aulas?
- Porque é sempre bom tempo para estudar, todo o ano e todos os anos até ao fim da vida.
- Tu ainda estudas?
- Claro que sim, senão como saberia actualizar-me com as notícias e descobertas do mundo, com os gostos dos mais jovens e com os teus quando estás cá em casa?
- Ora!
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Elena Flerova - O Avô
Imagem retirada da net
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Disse Robert Louis Stevenson: O estudo é uma espécie de alimento natural da mente !
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Domingo, 17 de Junho de 2007
17 de junho de 2007
Ninguém tinha levado uma flor sequer para minha professora D. Cecília Paim. Devia ser porque ela era feia. Se ela não tivesse uma pintinha no olho, não era tão feia. Mas era a única que dava um tostão pra mim para comprar sonho recheado no doceiro de vez em quando, quando chegava o recreio.
Comecei a reparar nas outras aulas e todos os copos sobre a mesa tinham flores. Só o copo da minha continuava vazio.
… … Uma manhã apareci com uma flor para minha professora. Ela ficou muito emocionada e disse que eu era um cavalheiro. … …
E todos os dias fui tomando gosto pelas aulas e me aplicando cada vez mais. Nunca viera uma queixa contra mim de lá. … …
A escola. A flor. A flor. A escola…
Tudo ia muito bem quando Godofredo entrou na minha aula. Pediu licença e foi falar com D. Cecília Paim. Só sei que ele apontou a flor no copo. Depois saiu. Ela olhou para mim com tristeza.
Quando terminou a aula, me chamou.
- Quero falar uma coisa com você, Zezé. Espere um pouco.
Ficou arrumando a bolsa que não acabava mais. Se via que não estava com vontade nenhuma de me falar e procurava coragem entre as coisas. Afinal se decidiu.
- Godofredo me contou uma coisa muito feia de você, Zezé. É verdade?
Balancei a cabeça, afirmativamente.
- Da flor? É, sim senhora.
- Como é que você faz?
- Levanto mais cedo e passo no jardim da casa do Serginho. Quando o portão está só encostado, eu entro depressa e roubo uma flor. Mas lá tem tanta que nem faz falta.
- Sim, mas isso não é direito. Você não deve fazer mais isso. Isso não é um roubo, mas já é um “furtinho”.
- Não é não, D. Cecília. O mundo não é de Deus? Tudo que tem no mundo não é de Deus? Então as flores são de Deus também…
Ela ficou espantada com a minha lógica.
- Só assim que eu podia, professora. Lá em casa não tem jardim. Flor custa dinheiro… E eu não queria que a mesa da senhora ficasse sempre de copo vazio.
Ela engoliu em seco.
- De vez em quando a senhora não me dá dinheiro para comprar um sonho recheado, não dá?
- Poderia lhe dar todos os dias. Mas você some…
- Eu não podia aceitar todos os dias…
- Por quê?
- Porque tem outros meninos pobres que também não trazem merenda.
Ela tirou o lenço da bolsa e passou disfarçadamente nos olhos.
- A senhora não vê a Corujinha?
- Quem é a Corujinha?
- Aquela pretinha do meu tamanho que a mãe enrola o cabelo dela em coquinhos e amarra com cordão.
- Sei. A Dorotília.
- É, sim, senhora. A Dorotília é mais pobre do que eu. E as outras meninas não gostam de brincar com ela porque é pretinha e pobre de mais. Então ela fica no canto sempre. Eu divido o sonho que a senhora me dá, com ela.
Dessa vez ela ficou com o lenço parado no nariz muito tempo.
- A senhora de vez em quando, em vez de dar para mim, podia dar para ela. A mãe dela lava roupa e tem onze filhos. Todos pequenos ainda. Dindinha, minha avó, todo sábado dá um pouco de feijão e de arroz para ajudar eles. E eu divido o meu sonho porque Mamãe ensinou que a gente deve dividir a pobreza da gente com quem é ainda mais pobre.
As lágrimas estavam descendo.
- Eu não queria fazer a senhora chorar. Eu prometo que não roubo mais flores e vou ser cada vez mais um aluno aplicado.
- Não é isso, Zezé. Venha cá.
Pegou as minhas mãos entre as dela.
- Você vai prometer uma coisa, porque você tem um coração maravilhoso, Zezé.
- Eu prometo, mas não quero enganar a senhora. Eu não tenho um coração maravilhoso. A senhora diz isso porque não me conhece em casa.
- Não tem importância. Pra mim você tem. De agora em diante não quero que você me traga mais flores. Só se você ganhar alguma. Você promete?
- Prometo, sim senhora. E o copo? Vai ficar sempre vazio?
- Nunca esse copo vai ficar vazio. Quando eu olhar para ele vou sempre enxergar a flor mais linda do mundo. E vou pensar: quem me deu esta flor foi o meu melhor aluno. Está bem?
Agora ela ria. Soltou minhas mãos e falou com doçura.
- Agora pode ir, … ...
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in “O Meu Pé de Laranja Lima”
de José Mauro de Vasconcelos
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♪: Leãozinho - Caetano Veloso
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Sexta-feira, 9 de Fevereiro de 2007
9 de fevereiro de 2007
Uma escola nova, com pavilhões ainda a estrear e outros ainda não construídos. Professores e alunos já por todo o lado.
Empregados em tarefas várias e ocupadíssimos de um lado para o outro.
Enfim, movimento "vivo" por todos o lado.
A vivacidade de uma escola de gente pequena, com toda a sua alegria em expansão.
Projectos e ideias mais ou menos brilhantes.
Imaginação e motivação não faltam.
Parece uma constante em tudo o que é novo ou que se pretende renovar e actualizar, estes modos vibrantes de ser e estar.
Esta dinâmica de extra-horário para bem trabalhar é o fluir de uma dedicação carinhosa em tudo o que se empreende.
A vontade e a dedicação dão novas forças à luta do dia-a-dia.
Novos rumos à nossa vida e aos nossos horários.
Todos gostamos de trabalhar bem, de nos dedicarmos a empreitadas e causas que traduzam as nossas expectativas, quantas vezes mais em favor dos outros que de nós mesmos.
É importante não perder nunca esse fôlego, porque há sempre alguém que precisa de nós assim.