Uma outra imagem assumida do mundo dos seres humanos e aplicada à obra da Criação dos deuses é a do seu trabalho.
Nós plantamos, regamos e cuidamos dos campos, cozemos tijolos e construímos cidades com eles, tal como criamos algo artístico no artesanato. Os deuses também trabalham.
Enki, o deus sumério, encheu os canais e os poços com água, criando, assim, terra arável (mito de Dilmun); Marduk, o deus criador da Babilónia, edificou ele próprio terraços, deslocou tijolos e construiu cidades, segundo um mito posterior; formou o ser humano a partir do sangue do deus Kingu, que cometeu uma falta, sendo, por isso, morto. Os restantes deuses construíram uma enorme torre num templo, para Marduk habitar, transportando e colocando os tijolos durante um ano.
Um hino dos tempos do Novo Reino diz que o deus egípcio Ptah «construiu ele próprio o seu corpo», tendo feito também tudo o resto:
«Tu formaste a Terra…
Tu, o teu próprio Chnum!» [o deus oleiro - nota do autor].
Um texto da cidade de Esna (Latopolis), no qual o deus da cidade, Chnum, se funde com o deus do Sol, Rá, louva o criador, dizendo:
«Ele estendeu a Terra a partir do seu fundamento…
Escultor dos escultores…
Chnum, que fez os deuses Chnum,
Com mão forte, incansavelmente,
De modo que não há trabalho que se faça sem ele.
Ele fez as cidades, separou as paisagens…
Criou os seres humanos no torno de oleiro…
Tu és o mestre do torno de oleiro, que gosta de Criar no torno.»
No segundo relato da Criação, no Antigo Testamento, Javé também trabalha como um oleiro e agricultor: «Então, o Senhor Deus formou o ser humano do pó da terra… Depois, o Senhor Deus plantou um jardim no Éden, a oriente» (Génesis 2, 7-8).
Depois, providenciou a rega (Génesis 2,10-14) e formou a mulher a partir de uma costela de Adão (Génesis 2, 21-22).
Estes exemplos deveriam ser suficientes para mostrar que, de acordo com a compreensão das culturas superiores primitivas, a ordem só surgiu através do trabalho; sem este, tudo permanece e tudo regressa ao caos total.
.
.
in "Religião"
de Karl-Heinz Ohlig
.
.
Disse Karl-Heinz Ohlig: É bom que existam muitas religiões diferentes; ninguém quer substituir a diversidade das flores por uma única, mesmo que seja muito bela !
.
.