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Escritos de Eva

Eva diz o que sonha (e não só) sem alinhamento a políticas ou crenças conformes às instituições que conhecemos. Momentos de leveza, felicidade ou inspiração para melhorar cada dia com bons pensamentos. Um texto, uma imagem... para todas as idades

Eva diz o que sonha (e não só) sem alinhamento a políticas ou crenças conformes às instituições que conhecemos. Momentos de leveza, felicidade ou inspiração para melhorar cada dia com bons pensamentos. Um texto, uma imagem... para todas as idades

Escritos de Eva

06
Fev10

Fronteiras

eva

 finalizamos esta conferência garantindo que a maior força cósmica que existe é constituída essencialmente por amor fraternal!

- Ufa! Já estamos perto de casa. Foi cansativa, não foi?
- A conferência? Não achei, mas reconheço que fui divagando pelos entremeios.
- Ah! Assim está bem! Assim aguenta-se quase tudo.
- Não é o que estás a pensar, os devaneios não são por vontade, são incapacidade de concentração, de dirigir a minha atenção. Em suma, são defeito e não pretendidos.
- Não percebo, tu eras a que melhor te concentravas, no que querias e quando querias.
- Pois, mas não sou. Parece que estou sempre cansada, nada me interessa e apenas espero o passar dos dias.
- Tens a certeza que és tu mesma? Pelo que acabas de dizer, nem te reconheço!
- Nem eu me reconheço na maior parte das vezes. Parece que estou aqui e noutro lado ao mesmo tempo.
- E sabes onde é isso que chamas de outro lado? É mais interessante que este teu dia-a-dia?
- Pois nem sei nada de nada, apenas que me sinto um pouco aflita por não poder resolver a minha direcção de pensamentos.
- Bem, se sentes aflição então não é por te encontrares melhor que aqui, portanto não se trata de fuga do presente.
- De modo algum, mas não sei o que é.
- Então só resta esperar para ver onde isso vai dar.
- Pois, obrigada! Isto é, devo agradecer esse conselho? Isso é um conselho a ter em conta?
- Quando não sabemos que fazer, esperamos quietos e atentamente por mais algum indício que possa tornar esclarecedora a situação, mesmo que seja um item mínimo.
 
21
Out09

Outros nós de nós

eva

Sinto falta de mim… às vezes pareço outra pessoa… outro alguém que não conheço bem… que pode ser bem mesquinha… ou muito melhor que eu…
- Somos muitos eus em nós.
- Somos várias personalidades num só indivíduo?
- Não exactamente, somos todas as nuances possíveis das nossas emoções, sentimentos, raciocínios e reacções lógicas em cada situação que enfrentamos.
- Somos tudo nós mesmos…?
- Na grande maioria das vezes somos a diferença entre o que estamos habituados a sentir, os sofrimentos muito marcados por que passámos e o que achamos que deveríamos sentir.
- Em suma – somos os nossos traumas e as nossas ambições.
- Por nós mesmos – somos os nossos desejos de nós mesmos.
- Mas então, se percebemos a diferença do que ainda somos e o que gostaríamos de já ser, então também nos poderemos modificar e um dia atingir o que desejaríamos ser agora?
- Evidentemente, mas até lá dá-se uma luta entre os nossos eus que, se não for moderada pelo tempo e pela paciência, pode desencadear em desequilíbrio.
- Estás a falar em loucura?
- Tanto pode ser desequilíbrio físico – e então desencadeiam-se doenças de ordem diversa – como desequilíbrios psíquicos.
- Então… que fazer?- Ter a paciência e a abnegação de ir sempre tentando auto-educação, seguindo sempre a linha que delineamos para o nosso futuro. Sem parar, mas também sem correr quando apenas se pode andar e ver bem onde se põem os pés…

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Imagem retirada da net
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Disse  Aldous Huxley:  O degrau da escada não foi inventado para repousar, mas apenas para sustentar o pé o tempo necessário para que o homem coloque o outro pé um pouco mais alto !
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18
Jan09

Excerto da carta de Fernando Pessoa a Adolfo Casais Monteiro sobre a génese dos heterónimos

eva

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            Desde criança, tive a tendência para criar em meu torno um mundo fictício, de me cercar de amigos e conhecidos que nunca existiram. (Não sei, bem entendido, se realmente não existiram, ou se sou eu que não existo. Nestas coisas, como em todas, não devemos ser dogmáticos.) Desde que me conheço como sendo aquilo a que chamo eu, me lembro de precisar mentalmente, em figura, movimentos, carácter e história, várias figuras irreais que eram para mim tão visíveis e minhas como as coisas daquilo a que chamamos, porventura abusivamente, a vida real. Esta tendência, que me vem desde que me lembro de ser um eu, tem-me acompanhado sempre, mudando um pouco o tipo de música com que me encanta, mas não alterando nunca a sua maneira de encantar.
…………………………………………………………………….
            Esta tendência para criar em torno de mim um outro mundo, igual a este mas com outra gente, nunca me saiu da imaginação. Teve várias fases, entre as quais esta, sucedida já em maioridade. Ocorria-me um dito de espírito, absolutamente alheio, por um motivo ou outro, a quem eu sou, ou a quem eu suponho que sou. Dizia-o, imediatamente, espontaneamente, como sendo de certo amigo meu, cujo nome inventava, cuja história acrescentava, e cuja figura – cara, estatuto, traje e gesto – imediatamente eu via diante de mim. E assim arranjei, e propaguei, vários amigos e conhecidos que nunca existiram, mas que ainda hoje, a perto de trinta anos de distância, ouço, sinto, vejo. Repito: ouço, sinto, vejo… E tenho saudades deles.
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            Aí por 1912, salvo erro (que nunca pode ser grande), veio-me à ideia escrever uns poemas de índole pagã. Esbocei umas coisas em verso irregular (não no estilo Álvaro de Campos, mas num estilo de meia irregularidade), e abandonei o caso. Esboçara-se-me, contudo, numa penumbra mal urdida, um vago retrato da pessoa que estava a fazer aquilo. (Tinha nascido, sem que eu soubesse, o Ricardo Reis.)
            Ano e meio, ou dois anos depois, lembrei-me um dia de fazer uma partida ao Sá-Carneiro – de inventar um poeta bucólico, de espécie complicada, e apresentar-lho, já me não lembro como, em qualquer espécie de realidade. Levei uns dias a elaborar o poeta mas nada consegui. Num dia em que finalmente desistira – foi em 8 de Março de 1914 – acerquei-me de uma cómoda alta, e tomando um papel, comecei a escrever, de pé, como escrevo sempre que posso. E escrevi trinta e tantos poemas a fio, numa espécie de êxtase cuja natureza não conseguirei definir. Foi o dia triunfal da minha vida, e nunca poderei ter outro assim. Abri com um título, O Guardador de Rebanhos. E o que se seguiu foi o aparecimento de alguém em mim, a quem dei desde logo o nome de Alberto Caeiro. Desculpe-me o absurdo da frase: aparecera em mim o meu mestre. Foi essa a sensação imediata que tive. E tanto assim que, escritos que foram esses trinta e tantos poemas, imediatamente peguei noutro papel e escrevi, a fio, também, os seis poemas que constituem a Chuva Oblíqua, de Fernando Pessoa. Imediatamente e totalmente… Foi o regresso de Fernando Pessoa-Alberto Caeiro a Fernando Pessoa ele só. Ou melhor, foi a reacção de Fernando Pessoa contra a sai própria inexistência como Alberto Caeiro.
            Aparecido Alberto Caeiro, tratei logo de lhe descobrir – instintiva e subconscientemente – uns discípulos. Arranquei do seu falso paganismo o Ricardo Reis latente, descobri-lhe o nome, e ajustei-o a si mesmo, porque nessa altura já o via. E, de repente, e em derivação oposta à de Ricardo Reis, surgiu-me impetuosamente um novo individuo. Num jacto, e à máquina de escrever, sem interrupção nem emenda, surgiu a Ode Triunfal de Álvaro de Campos – a Ode com esse nome e o homem com o nome que tem.
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             Mais uns apontamentos nesta matéria… Eu vejo diante de mim, no espaço incolor mas real do sonho, as caras, os gestos de Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos. Construí-lhes as idades e as vidas. Ricardo Reis nasceu em 1887 (não me lembro do dia e do mês, mas tenho-os algures), no Porto, é médico e está presentemente no Brasil. Alberto Caeiro nasceu em 1889 e morreu em 1915; nasceu em Lisboa mas viveu quase toda a sua vida no campo. Não teve profissão, nem educação quase alguma. Álvaro de Campos nasceu em Tavira, no dia 15 de Outubro de 1890 (às 1.30 da tarde, diz-me o Ferreira Gomes; e é verdade, pois, feito o horóscopo para essa hora, está certo). Este, como sabe, é engenheiro naval (por Glasgow), mas agora está aqui em Lisboa em inactividade. Caeiro era de estatura média, e, embora realmente frágil (morreu tuberculoso) não parecia tão frágil como era. Ricardo Reis é um pouco, mas muito pouco, mais baixo, mais forte, mas seco. Álvaro de Campos é alto (1,75 m de altura, mais dois cm do que eu), magro e um pouco tendente a curvar-se. Cara rapada todos – o Caeiro louro sem cor, olhos azuis; Reis de vago moreno mate; Campos, entre o branco e moreno, tipo vagamente de judeu português, cabelo, porém, liso e normalmente apartado ao lado, monóculo. Caeiro, como disse, não teve mais educação que quase nenhuma – só instrução primária; morreram-lhe cedo o pai e a mãe, e deixou-se ficar em casa, vivendo de uns pequenos rendimentos. Vivia com uma tia velha, tia-avó. Ricardo Reis, educado num colégio de jesuítas, é, como disse, médico; vive no Brasil desde 1919, pois se expatriou espontaneamente por ser monárquico. É um latinista por educação alheia, e um semi-helenista por educação própria. Álvaro de Campos teve uma educação vulgar de liceu; depois foi mandado para a Escócia estudar engenharia, primeiro mecânica e depois naval. Numas férias fez a viagem a Oriente de onde resultou o Opiário. Ensinou-lhe latim um tio beirão que era padre.
Como escrevo em nome destes três? Caeiro, por pura e inesperada inspiração, sem saber ou sequer calcular que iria escrever. Ricardo Reis, depois de uma deliberação abstracta, que subitamente se concretiza numa ode. Campos, quando sinto um súbito impulso para escrever e não sei o quê. (O meu semi-heterónimo Bernardo Soares, que aliás em muitas coisas se parece com Álvaro de Campos, aparece sempre que estou cansado ou sonolento, de sorte que tenha um pouco suspensas as qualidades de raciocínio e de inibição; aquela prosa é um constante devaneio. É um semi-heterónimo porque, não sendo a personalidade a minha, é, não diferente da minha, mas uma simples mutilação dela. Sou eu menos o raciocínio e a afectividade. A prosa, salvo o que o raciocínio dá de ténue à minha, é igual a esta, e o português perfeitamente igual; ao passo que Caeiro escrevia mal o português, Campos razoavelmente mas com lapsos como dizer «eu próprio» em vez de «eu mesmo», etc. Reis melhor do que eu, mas com um purismo que considero exagerado. O difícil para mim é escrever a prosa de Reis – ainda inédita – ou de Campos. A simulação é mais fácil, até porque é mais espontânea em verso.)
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in "Fernando Pessoa, Obra Poética e em Prosa",
ed. António Quadros. Porto, Lello & Irmão, 1986
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Disse  Ricardo Reis (heterónimo de Fernando Pessoa):  Há mais eus do que eu mesmo !
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09
Jan08

Desdobramento

eva
Tantas como as pétalas de uma flor, ela é uma que voa, outra que caminha, outra que estuda ávida de saber. Outra que fica preguiçosa no sofá, outra que viaja no espaço. Outra que conversa com desconhecidos, outra que é chamada e não sabe porquê nem vê utilidade nisso.
Enfim, ela desdobra-se em tantas iguais a ela como as tarefas que tem de desenvolver.
É uma rapidez, um instante (ou nem isso) entre uma coisa e outra, ou todas em simultâneo.
E lá consegue fazer tudo, a mais das vezes sem perceber bem como, e apenas percebe se os trabalhos estão ou não concluídos.
Às vezes é cansativo. Às vezes é maravilhoso.
É como viver várias vidas numa só. Num só dia uma semana, num momento o passado, o presente e as hipóteses futuras.
Será como um cavalgar nas nuvens. Será como um filme que vi, há muito tempo, sobre uma história interminável em que um miúdo cavalgava pelos céus, não com um cavalo, mas num dragão/cão.
- Voltando à azáfama e à necessidade de desdobrar-se para tratar de tudo a tempo… isso dava imenso jeito agora.
- Agora?
- Sim, não viste? Todas as lojas estão em saldos!
- Ahaam...
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Fotograma de Never Ending Story 
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Disse Aristóteles: somos aquilo que fazemos repetidamente! 
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06
Dez07

O Viajante

eva
Parecem águas de cores variadas – do azul ao verde, do amarelo ao branco e do laranja ao roxo, ao lilás e ao rosa.
Não lhes encontro recipientes. Apenas estão assim, em forma de lagos redondos e pendurados no céu.
E ondulam e movem-se e fazem splash se algo atinge a sua superfície.
Vão mudando as cores. São cores em tons pastel (ou suaves).
- Pois não, não brilham. São transparentes e são lindas.
- Que fazem? Ou para que servem?
- Ah! Servem para passar por elas.
- Para quê? Parecem funcionar como reflexos sucessivos de pessoas. Parecem desdobrar o indivíduo e juntá-lo também.
- Sim, sim, no fim é como se fosse um tratamento. Melhor dizendo, um tratamento enquanto viaja.
- Quem?
- Ora, o viajante!
- Se volta? Pois volta, volta logo, assim que queira.
- Então é livre... 
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O Sono

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Salvador Dali

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07
Set07

Perspectivas

eva
Um passeio de helicóptero permite ver a paisagem de modo e de perspectivas completamente diferentes do habitual para a maioria.
Todos os tipos de transporte são úteis e cada um dá a sua perspectiva nas viagens que empreendemos.
Horários e trabalhos são deveres, e felizes os que os têm e ainda mais felizes os que se sentem úteis ao próximo e a si mesmos.
As várias visões e perspectivas que vamos tendo nas nossas vidas, permitem também viver com conhecimentos mais complexos.
O conhecimento é então um entendimento em escala alargada. E a vida floresce de vidas das quais, durante anos, não tivemos consciência.
A vida, nas diferentes acepções conhecidas, mais as que se prevêem vir a ser descobertas, dão uma perspectiva de cada mundo que as rodeia e onde se inserem.
O respeito pelas outras vidas é também o respeito pela nossa própria, em todos os níveis que se desdobram.
- Ora aí está uma conclusão interessante: respeitar os outros é, enfim, respeitar-se a si próprio como um ser íntegro e conhecedor de si.

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Fotograma do filme  E. T.

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