- abes o que descobri?
- Oh. lá ‘tas tu! Se não dizes…
- Pronto! Descobri que posso fazer mentalmente exactamente igual ao que faço na realidade.
- Olha a novidade! Até chamam a isso o sonhar acordado.
- Ai, sim?! Bom, mas é mesmo útil. Olha, consigo falar com os outros, incutir-lhes as minhas ideias, pedir-lhes desculpas, convencê-los a irem almoçar comigo, a…
- Isso é muito feio. É falta de ética.
- Ohh, mas não é tudo! Consigo ir a casa das pessoas e espreitá-las em tudo o que fazem.
- Que horror, como te atreves a invadir a privacidade familiar?!
- Olha, olha!!! E até consigo trazê-las comigo quando quero.
- Pareces um monstro!
- Não, é por boas razões. Umas porque as quero, simplesmente. Outras, porque quero transferir energias e tudo o que consigo para melhorarem.
- Tudo isso são irreverências de quem não tem princípios morais nem a noção da realidade.
- Hã?
- Ninguém se pode armar em um deus perante os outros, sem sofrer as consequências dessa ambição desgovernada da razão e da moral mais cedo ou mais tarde. Muito pior se esses outros são mantidos na ignorância dos procedimentos. É por vezes evidente que vivemos entre seres monstruosos e seres angelicais, e que duns e doutros são as suas acções que os classificam socialmente nesses níveis. As capacidades da mente são ainda mal conhecidas mas, acima de tudo, penso que tudo o que pensamos e fazemos deve ser criteriosamente avaliado em termos morais. Temos a possibilidade de distinguir o bem e o mal, temos o que muitos chamam de centelha divina, ou o símbolo do Divino em nós. Seja esse signo desconhecido ou reconhecido por um ser, ele não lhe dá uma posição superior a ninguém, mas uma condição de progresso a ser bem avaliada. Como tal, a ética e a dignidade são essenciais para conseguir atingir um nível elevado de consciência.
- Ora, senão é o quê?
- É uma autêntica derrapagem e…
- Ora, divirto-me e muito, é o que é!
- Em um coitado é o que alguns se transformam, pior ainda se nem sequer percebem a distinção e teimam na decadência com todo o prazer.
- Interpretações, é o que é!
- Evidentemente e a cada qual a sua, por vontade e livre-arbítrio.