Vida depois da vida no Budismo
Quem nunca teve na vida um momento em que se apercebeu que cada dia a mais é um dia a menos? O tempo passa, sem nunca parar e a morte é a nossa única certeza.
No Oriente as pessoas, em vez de evitarem pensar na morte, preparavam-se para ela como o desportista para a competição ou o guerreiro para o combate. Era uma evidência que não suscitava nem medo nem esperança.
Embora ninguém possa negar a realidade da morte, no nosso mundo moderno é inconveniente falar dela, pensar nela, ou mesmo encarar a sua eventualidade. Tememos a morte. Não falamos dela senão indirectamente, e os próprios doentes muitas vezes não têm o direito de saber que estão condenados.
Todos sabemos o que nos espera, mas a morte enche-nos sempre de consternação. Para nós, é como se ela não fizesse parte da vida: preferimos ignorá-la. No entanto, morrer dignamente é pelo menos tão importante como viver com rectidão. E como podemos nós enfrentar uma coisa que passamos a vida a tentar ignorar? …………………………………………………………………
No que respeita à morte, como aliás a todas as fases da vida, o Budismo afirma justamente que os nossos actos determinam a natureza das nossas experiências e portanto, mesmo uma pessoa sem religião, que não seguiu nenhum treino espiritual particular, mas que viveu sem ódio nem rancor, sem fazer mal aos seres vivos e com um sentido dos valores humanos de solidariedade e de calor, que não tenha tido inimizades intensas nem preferências muito marcadas por certas pessoas, morrerá geralmente em paz, terá um bardo tranquilo e renascerá numa forma de existência superior.
O treino Budista de base leva-nos a respeitar esta lei da causalidade das nossas acções, incita-nos á prática da não-violência e ao desenvolvimento da compaixão, permitindo-nos ter uma morte serena, em paz com nós mesmos.
O praticante mais experimentado, que se tiver familiarizado com as fases de dissolução da consciência, poderá permanecer consciente em todas elas e levar consigo, para a próxima vida, a resultante das experiências e dos conhecimentos adquiridos nesta. Embora possa não ter recordações exactas de sítios e acontecimentos, terá uma predisposição para as atitudes positivas e aptidão para continuar o caminho espiritual iniciado numa vida anterior.
No que respeita aos grandes Mestres, seres cuja mestria do espírito é grande, eles podem pura e simplesmente nunca perder consciência e guardar intactas todas as aquisições e as experiências da vida que deixaram. Inúmeras histórias atestam esta capacidade, como por exemplo, aquela que aparece no filme Kundun, baseado na auto-biografia do Dalai Lama: quando era muito pequeno o actual Dalai Lama lembrava-se perfeitamente do sítio onde a sua anterior encarnação tinha guardado a dentadura postiça, um detalhe que todos desconheciam.
.
.
Disse Séneca: Se é mesmo verdade o que os sábios nos dizem e se existe um lugar que nos acolhe depois da morte, talvez o amigo que acreditamos extinto nos tenha apenas precedido !
.
.