Portas
Portas que batem de mansinho. Portas que batem bruscamente e com ruído.
Os cães ladram de seguida e em coro, pelo sobressalto.
O homem da ambulância grita e gesticula como se ninguém o ouvisse.
Tudo o que deveria estar em silêncio grita ou faz ruído.
Tudo o que poderia ser barulhento está silencioso, como que espreitando.
As coisas parecem estar trocadas da normalidade a que nos habituaram.
Ou então sou eu que estou na inversa de mim – no espelho de mim própria.
Tais situações são úteis para poderem ser analisadas tanto no contexto do ridículo possível, como da situação habitual e já normalizada.
Fácil se torna, então, encontrar a justeza da situação mais adequada.
Fora do contexto do hábito adquirido, as coisas – mesmo as rotineiras – podem apresentar ainda uma coloração, ou energia, variada e dão-nos outro entendimento.
- Um novo entendimento das coisas!
- Das coisas e de nós. Se não entendimento novo, pelo menos alterado ou renovado por correcção.
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Disse Paul Valéry: Se tudo fosse claro, tudo nos pareceria inútil !
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