Vontade própria
- tudo remete ao coração, esse órgão…
…
- Reparaste na palavra órgão?
- Que tem?
- Ora! Tem dois acentos!
- Francamente, lembras-te de cada coisa. Que tem isso a ver com o assunto, podes explicar?
- Bem… não consegui deixar de pensar nisso assim que a palavra foi dita.
- Aí está!
- Está o quê? – pergunto eu agora.
- Está o problema – não consegues deixar de fazer associações contínuas, é o que é.
- Então… bem… não tinha pensado nisso.
- Pois nem deves ter tempo para pensamentos úteis, apenas para um destrambelhar de torrentes deles, constantemente e em completo desgaste psíquico.
- Achas? Ai, já estou a sentir-me fraca… Olha, vou para casa e deito-me.
- Para casa, deitar? Ó menina, vá mas é reeducar esse modo de pensar e a cada dia vai melhorar.
- Isto tem cura?
- Ohhh! Faça exercícios de concentração da atenção o mais constantemente que conseguir, primeiro por poucos minutos e amiudados; depois mais demorados até atingir o controlo deles em discernimento lúcido e por vontade própria. A sua! Não de outrem.
- Quer dizer, ser mais eu mesma? Eu-comigo, digamos.