- stou farto disto! Acordar sempre à mesma hora, fazer sempre os mesmos gestos durante o dia e por fim ir para a cama para dormir, ou esquecer – sei lá! – e repetir tudo por dias sem fim.
- Bem, isso sim que é estar farto! Até deixaste a morte de lado.
- Pois, até esse dia, então…
- Porque fazes tudo igual, ou melhor dizendo, porque não tentas inovar entre os minutos que vais tendo?
- Porque assim é mais fácil e os dias passam sem complicações.
- Ah! És tu mesmo que escolhes essa monotonia.
- Claro que é, sem dúvida! Assim não me atraso e não penso muito nas coisas.
- Que acontece se pensas, cansas-te?
- Não é isso, mas começo a ter opiniões e onde trabalho é melhor não as ter…
- Porque?
- Porque não está na minha mão alterar as coisas e também não tenho a certeza de estar a pensar melhor que a chefia. Agora, que há sempre possibilidades de fazer as coisas de outro modo e experimentar inovações – como disseste – há com certeza.
- Mas isso não quer dizer que não penses, nem sequer que não comentes com outros chefes mais directos, ou que escrevas à direcção as tuas ideias. Mas se te referes a falar, mal ou bem, só para falar, talvez não valha a pena o esforço. Podemos falar de tanta coisa útil sem ser a menosprezar ou elogiar de graxa os outros.
- Conversas com interesse, ali? Ah! Não estou a ver como, nem com quem.
- Aí está um desafio. Experimenta! Talvez te surpreendas com esses outros que pareces conhecer tão bem ou, quem sabe, te surpreendas contigo mesmo.