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amos por aqui… hummm… agora viramos naquela rua ali, à esquerda… pronto, onde puderes estacionar, paramos e seguimos a pé.
- Tu e a mania de caminhar…
- Faz bem e é um bom exercício, mas concordo que andar quilómetros e quilómetros possa ser excessivo e, inclusive, que não haja tempo para isso numa agenda preenchida, como a tua.
- Não é só isso, o que acontece é que cansa bastante e fica-se suado, e malcheiroso e isso tudo…
- E tu não gostas?
- Quem gosta?
- Depois podes tomar banho e…
- E… nada! Só volto a casa à noite e, pois, aí tomo um banho! Mas ficar desejoso dele logo pela manhã é exagero, ou não?
- Pronto, pronto, está bem. Vamos ali, então.
- Ali?
- Pois, vamos comprar fruta sumarenta e assim o sumo refresca-te. Boa?
- O quê? Depois fico a cheirar a laranja e a sei lá que mais!
- Não são cheiros refrescantes?
- São, pois claro que são! Apenas não se coadunam com esta roupa e tudo o que tenho que fazer durante o dia. Nem te passa pela cabeça o tipo de pessoas com quem vou reunir-me, nem o nível de vida que têm. Se quero falar com elas e fazer-me entender tenho que falar a mesma língua. Isto é, tenho que assemelhar-me em tudo a eles e ainda manter a distância humilde de uma modéstia que os deixe sentir sempre superiores, senão nada feito.
- Que penar é assim a tua vida… Mas talvez seja possível não chocares ninguém e, com certeza, ser, ou sentires-te livre.
- Não vejo bem como, e garanto que faço o melhor que sei.
- Então… está tudo dito e feito do melhor modo possível.