Vento feroz
Chegámos a uma cidade deserta ou melhor diríamos – fantasma. Corria um vento que ferozmente nos arrastava mais para trás do que para onde desejávamos seguir.
O vento levantava também areia e terra a ponto de mal podermos abrir os olhos, ainda que protegendo-os com as mãos e até os braços adiante.
As casas pareciam desabitadas e a desolação era completa.
Depois da caminhada apetecia algum preparo de civilização ou aconchego, mas tal parecia impossível.
Não percebíamos absolutamente ninguém, nem nada, nem perto nem longe.
Após um andarilhar pelo que teria sido uma larga avenida, pressentimos uma figura.
Era uma pessoa deitada no meio da dita avenida, meio enterrada com as areias e outras coisas trazidas pelo vento.
Deduzimos então que aquela ventania já deveria durar há certo tempo e que não seria tão repentina, como pensáramos a princípio.
Isto porque, ao longo da nossa caminhada, esteve sempre um tempo aprazível e ameno.
Apenas ao chegar ali é que topámos com o temporal.
Voltando ao meio-soterrado, começámos a tentar destapar-lhe a cara e verificar o seu estado.
Estava muito desidratado, mas vivo e era um homem já de idade avançada.
Nisto, ouvimos um gritinho de aflição – pai!
Foi quando compreendemos que ele era o pai de uma mulher que estava connosco.
Ele foi recuperando aos poucos e fazendo um grande esforço para falar, assim que reconheceu a filha.
Disse-lhe com a voz muito embargada que estava à sua procura, mas outros o agarraram e soterraram ali mesmo, para que morresse.
Porquê?!! Sabia lá ele. Ele só procurava a filha para a alertar do mau tempo que vinha ali por ela. Por ela!?
Pois.
.
. .
.
.
.
.