Ali mesmo
- Que trânsito! Não há uma vaga para cruzar a rua.
- Que dizer dos que passam a voar ou em grupos de caminheiros.
- Pois é o que te digo, não há intervalo.
- É verdade, ali trabalha-se no auxílio aos outros, tanto de noite como de dia. Muito ou pouco conforme a necessidade dos outros, mais do que da sua própria necessidade.
- Olha, agora parece que dá – vamos atravessar.
- Vês como é fácil. Estão ali à espera naquela plataforma, com iluminação muito ténue.
- Onde?
- Ali, mesmo à frente. E agora chega outro grupo, naquela espécie de avião.
- Não vejo nada disso. O que vejo é uma esplanada fechada ou abandonada e uma oficina de peças.
- Que ideia a tua! Nada disso, não vês como se cumprimentam e o ar sereno que trazem. No entanto as tarefas que os esperam são espinhosas e até algo desagradáveis.
Porém têm sempre aquele semblante amável, sem perturbação.
- Mas onde está isso?
- Agora chega outro grupo, parecem guerreiros com um prisioneiro – não, uma prisioneira.
Estão a fazer a entrega dela, sem uma única palavra. Já deviam ter tudo acordado antes. Coitada, ela mal se aguenta em pé. Está carregada de horror e pavor.
- Que dizes?!?
- E agora, bem amparada é levada no meio de todo o grupo. Outro, novo, aproxima-se vindo de cima e leva-a para donde ele veio. Para aquele corredor de luz.
Afinal, é já outro dia que nasce. Outro dia de esperança.
- Acho que só tu vês essas coisas ali.
- Que lindo quando tudo acaba bem. Ela foi para uma espécie de hospital – para recuperação – porque não se pode viver com o pavor. A vida deveria ser vivida em esperança e alegria.
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Imagem retirada da net
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Disse Goethe: Vá até onde puder ver; quando lá chegar poderá ver ainda mais longe !
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