Planos paralelos
- ai com destino aonde?
- Sei lá, vou indo!
- Dá-me boleia?
- Nem pensar!
- Se não sabe para onde vai? Podemos perfeitamente ir juntos para aí, esse sítio.
- Que ideia maluca!
- Não incomodo nem nada e ainda podemos conversar.
- Adeus, já disse.
- Não é pródigo, é o que é.
- Ai, ai!
- Qual é o problema da boleia?
- Não dou boleias a quem não conheço.
- Pois se não as dá também não passa a conhecer.
- Nem quero conhecer, percebe? Não quero!
- Já que insiste!
- …
- Que foi, nunca viu?
- Alguém com aspecto cuidado e falando assim sozinho tanto tempo, sem auricular nem nada, não!
- Então não viu quem estava aqui?
- Aqui não estava nem está ninguém a não ser o senhor.
- Não viu o tipo a pedir-me boleia?
- Boleia de quê se o senhor está apeado?!
- Eu estou o quê? Ora essa, então não vê o meu carro ali?
- Ali é um jardim com relva e flores, acabadinho de arranjar.
- Então, onde estou?
- E sabe quem é?
- Mas…
- Vamos para dentro, bebe um café – ofereço eu – e telefonamos à sua família ou médico, que diz?
- Não digo mais nada.