Um gelado
Um gelado de natas com triângulos azuis.
Triângulos azuis que estalam assim que são tocados.
Parecia uma nuvem e o céu – se a nuvem fosse rendilhada.
O gelado estava delicioso e o dia decorria lindo e calmo.
Estavam muitos ali em redor. Uns queriam ajudar; outros, nem tanto.
Mas ela lembrava-se das recomendações e não acredita em nada do que lhe dizem.
É tudo ilusão! Imagens colocadas especialmente para ela ver e acreditar.
Vendo aquilo tudo, sentia-se ainda mais isolada e angustiada. Desiludida, de tanto cinismo…
E seria cinismo? Cada um faz o que julga melhor.
Uns preocupam-se apenas consigo próprios, outros preocupam-se com todos.
Talvez não seja cinismo, mas a defesa de prioridades.
Desvelada, como é, por todos, causava-lhe impressão os que apenas descortinam os seus interesses em tudo o que os rodeia.
São como os olhos doentes que vêem um pouco do tudo que poderiam ver.
O gelado acabou. Afinal, feliz dela que via a vida com tal amplitude.
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Disse Jean-Paul Sartre: O valor da vida não é outra coisa senão o sentido que tivermos escolhido !
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