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Escritos de Eva

Eva diz o que sonha (e não só) sem alinhamento a políticas ou crenças conformes às instituições que conhecemos. Momentos de leveza, felicidade ou inspiração para melhorar cada dia com bons pensamentos. Um texto, uma imagem... para todas as idades

Eva diz o que sonha (e não só) sem alinhamento a políticas ou crenças conformes às instituições que conhecemos. Momentos de leveza, felicidade ou inspiração para melhorar cada dia com bons pensamentos. Um texto, uma imagem... para todas as idades

Escritos de Eva

31
Jul06

O motoqueiro

eva
31 de julho de 2006

Uma cidade à beira mar iluminada apenas pelo crepúsculo.
Os tons que ainda a iluminam vão do vermelho-tijolo aos tons de castanho/preto.
Vamo-nos afastando da margem como se fôssemos num barco.
Conseguimos vê-la quase como um postal desdobrável em toda a extensão da sua marginal.
E seguidamente, a sua imagem começa a afunilar-se no vértice do nosso triângulo visual.
Mergulhados no anoitecer navegamos no mar.
Surge entretanto uma sombra de motoqueiro típico, com lenço a sair do capacete e a boa velocidade.
Parecia gozar o vento deslocado pela sua grande moto preta.
Pára de repente no meio de um deserto, entre alguns arbustos, casas velhas e abandonadas.
Começa a cortar o solo de areia como se fosse faca em manteiga.
Do seu corte saem esqueletos inteiros. Espantados, levantam-se e olham todos para nós, incluindo o motoqueiro, que sorri.
Os esqueletos vão-se afastando e, dizendo adeus para nós, começando a andar mais depressa.
Percebemos então que estão a ver conhecidos nas ruínas e que vão a um reencontro há muito esperado.
30
Jul06

Teolinda Maria Gersão # Ladaínha

eva
30 de julho de 2006
.
por todos meu deus peço por todos
pelos sapos pelas cobras pelos burros
p'los peitos murchos sem calor nem leite
p'las bocas mudas sem luar nem beijos
pelos frutos que morrem nas sementes
por não terem coragem de nascer
p'los feios p'los sem sol p'los indiferentes
p'los que gastam a vida sem desejos
no desejo insatisfeito de viver
.
de Teolinda Maria Gersão
in "Poemas"
.
.
29
Jul06

Desejos

eva

29 de julho de 2006

Ponto de encontro. Encontro de poucos em nome de muitos.
Todos querem falar. O tema das conversas torna-se convergente – é sobre o desejo.
A capacidade de desejar algo melhor para a própria vivência e para a felicidade dos que lhe são próximos.
A capacidade de alguns desejarem bem e de outros nem sequer conseguirem fazer uma pausa de paciência e bondade nas suas vidas tão apressadas e ao mesmo tempo tão presas de movimentos de libertação da rotina instalada.
Desejos conscientemente sentidos de ser como as aves que voam sem olhar para o que já passou.
Desejos de ser como as flores do campo que apenas nascem e brilham para o Sol de cada dia.
Desejos de ser como as árvores que até no mesmo lugar se erguem orgulhosas das suas folhas novas para os céus.
Desejos de ser como as águas dos rios que se dirigem para o mar e aí conseguirem fazer parte da unidade maior das águas no planeta.
Desejos de guiar os seus mais queridos na segurança da integridade e verdade pela vida fora.
Desejos de transformação constante como as pedras preciosas que se debatem e lascam até brilharem.
Desejos de ser melhor a cada dia que nasce o sol.

28
Jul06

Dúvidas e estranhezas

eva
28 de julho de 2006

Uma sala de reuniões ou conferências.
Os tons da decoração são gradações de azul.
O tecto é o céu, o chão são os países da Terra, as paredes estão abertas e delas só se vêem colunas a servir de pilares.
O ambiente é de penumbra.
Muita gente espera para ouvir ensinamentos novos de entendimento sobre a felicidade na sua vida. Esperam também para inquirirem das suas dúvidas e estranhezas e problemas.
Alguns, poucos, esperam oportunidade para atentar contra este espaço. E contra os que oferecem o seu tempo para ensinar desconhecidos sobre os seus conhecimentos.
Poucos se aproveitam das dádivas para malquerer e maltratar os que a tanto se dedicam.
Mas os que aproveitam os ensinamentos, os que evoluem, são sempre em número superior às expectativas.
A penumbra vai sendo iluminada por jorros de luz que caem como centelhas ou como os foguetes de lágrimas.
Todos ficam entre a penumbra e o jogo de luzes.
Alguns desiludem-se das suas vontades e ambições.
Muitos armam-se de novas energias para a sua labuta diária.
Todos levam de volta ao lar um mundo de ideias novas.
E o ensejo de outras vidas para descobrir imediatamente, no seu tempo.
27
Jul06

O grão de areia

eva
27 de julho de 2006

O erro e a dor são comparáveis ao grão de areia nas ostras.
Ou às tempestades, no caso de serem mais gravosos os erros.
Nas ostras o grão de areia é encontrado e envolvido com toda a sua "seiva" até se transformar numa pérola.
Nas tempestades, os raios e trovões limpam e afastam os excedentes que impedem a harmonia da natureza.
A seguir vem a bonança, tão valiosa quanto desejada.
É assim que em qualquer situação menos agradável, temos a possibilidade de aprender com a dor que essa situação nos causa. Ou com o erro, se o conseguirmos enfrentar e identificá-lo como tal.
Dessa aprendizagem podemos reagir com estados de amargura e desilusão que nos "atiram para o chão" da nossa existência .
Ou podemos reagir às primeiras sensações, sempre contraditórias, e analisá-las projectando-as ao encontro da verdade e da integridade.
Dessa projecção limpamos da memória o que é desnecessário, enriquecendo-nos quanto possível, de modo a transferir as reacções para q.b.
26
Jul06

Imagens

eva
26 de julho de 2006

Imagens - feias ou bonitas. Grandiosas ou macabras.
Elas preenchem a nossa vida, os nossos dias.
Os nossos ideais também se revestem de imagens. As nossas.
Também são nossas as que povoam os nossos sonhos e que traduzem as ânsias e expectativas.
Ou as que revelam as respostas que precisamos saber.
Ou ainda as que despejam os avisos dos nossos traumas e erros por resolver.
Todo o tipo de imagem que projectamos simboliza o que somos.
Por vezes somos heróis e fadas. Outras, os perseguidos em fuga enervada.
Por vezes perdemo-nos completamente no retorno.
E então aí parece que saímos para sempre de nós mesmos e acontece o desvario do medo.
Do descalabro que ora aflige, ora empurra na procura.
Seja como e onde fôr, procuramos sempre - por instinto ou reflexo - a felicidade.
Hoje pareceu-me importante criar imagens de felicidade que possa recordar e também encontrar, se me perder.
25
Jul06

O paciente

eva
25 de julho de 2006

Gestos circulares. E circundantes entre duas pessoas.
Um é o curador e o outro o que está a ser curado.
Ou, dito de outro modo, um é o médico/enfermeiro e o outro é o doente/paciente.
Paciente na acepção de paciência porque é preciso muita, para uma vida inteira.
Após todos os exercícios de tratamento, o doente pôde reeerguer-se.
Assimilar de novo o ar no seu corpo ainda débil. Tenta movimentos, dantes tão usuais mas que presentemente lhe são impossíveis.
Demasiado amargurado não consegue impôr a sua vontade ao corpo.
A dor da desilusão é tal que cai de bruços.
Mesmo nessa posição rente ao chão, consegue reagir por si mesmo, sabendo que é da sua vontade que se alimenta a sua mente e, por ela, o seu corpo.
Respirando o melhor que consegue, levanta-se e se pode desejar algo é que ninguém sofra como ele está sofrendo.
Possa este sofrimento aliviar o de outros, semelhantes ao seu.
Possa ultrapassar-se a si próprio e, nas suas melhoras, restabelecer-se enfim.
Desejos que conseguem projectar pensamentos bemfazejos.

24
Jul06

A missão

eva
24 de julho de 2006
 
Como Vénus, de uma concha renasceu uma mulher, já de cabelos brancos e bastante doente.
Da concha pequenina onde estava o grão de areia formou-se uma pequena pérola e ficou lá.
A concha foi crescendo e quando abria para respirar e ver melhor as águas que a rodeavam, a pérolazinha saltitava no seu interior.
E a concha cresceu, cresceu. Cresceu tanto que o seu lugar no fundo das areias já não chegava.
E teve que subir à superfície. Aí os perigos levaram-na em fuga para uma enseada.
Era agora uma concha enorme e a pérola já não se mexia. Na orla da água e da areia já não podia mais e teve que abrir.
Ais de espanto por todo o lado.
Dos pássaros, das abelhas, dos peixes e dos outros animais.
Até as frutas e folhas das árvores estavam espantadas.
A pérola estava agora na mão de uma rapariga verde água que saía da concha.
A concha cumpriu a sua missão. A pérola iria agora conduzir a rapariga na sua.
Os deveres são para ser cumpridos.
É uma lei. Igual para todos.  
23
Jul06

Maria Aliete Galhoz # Mulher Com Menino Nos Braços

eva
23 de julho de 2006

...Aconteceu assim e nem sequer é um conto.
... ... O apontamento que tenho é desse dia, reli-o, senti-o vivo e dá-me vontade de contá-lo assim mesmo, porque hoje eu já não escrevo bem daquela maneira, mas não importa, aqui a literatura é o menos, o mais é que se passa por vezes tanto tempo sem um gesto de fraternidade que somos desertos secos onde não cai chuva, e nós precisamos de irmãos como o nosso corpo de pão ou então a vida é morta em nossa vidas.
... ... Sob a protecção precária das telhas sublinhadas e de um jasmim do cabo todo aberto em flores amarelas, a presença da mulher com três crianças. Um bebé embrulhado em trapos limpos, que tinha nos braços. Dois meninos pequenos sentados a seu lado e que comiam pão a grandes dentadas sôfregas que quase pareciam felizes. Vieram ao meu encontro os olhos dos meninos com sua curiosidade respondendo à minha sem mal nem medo. Depois foi a mulher fitando-me de outro mundo, com aquela força de inocência pisada e que se fica como um pasmo admirado em certas vidas.
... ... Fitei-lhe os olhos que me fitaram também, azuis, de um puríssimo azul, com sua névoa luminosa de quem aprendeu lágrimas caladas. Sorriu-me e não sei que lhe fez sentir a urgência necessária de ser generosa comigo. A resposta angustiada dos meus olhos escondeu-se no gesto de me curvar para lhe acarinhar os filhos. «Quer comprar alguma coisa?» Apenas as bugigangas misturadas do comércio de quem não sabe ainda, de quem não é capaz de mendigar.
... ... Abri a minha mão no canto onde as moedas faziam um pequeno troco magro. Ela não protestou nem agradeceu, deixou-me escolher, desajeitada, a minha compra irrisória. Corei. Os seus olhos fitaram-me de novo com seu azul magnífico, avaliaram-me toda, um sorriso abriu-lhe uma vivacidade no rosto. Remexeu num saco que tinha ao lado, tirou qualquer coisa lá de dentro, limpou na manga do casaco, pôs-me na mão, «isto sou eu que ofereço à senhora». Um espelhinho redondo com sua orla de plástico vermelho, ingènuamente feio. Fechei a mão sobre ele.
... ... Lembro este nada que se passou com a consciência de uma cobardia pesando sobre mim e ao memso tempo com a comoção humilde de quem viveu um milagre.
...Aliás já mo disseram com a brusquidão dos amigos certos «você é traidora». Perguntei porquê, todos nós queremos uma estimativa de maior valia, é humano também. A resposta foi só «porque sabe». Calei-me, já nada tinha a argumentar, a verdade às vezes obriga-nos ao respeito de que ao menos se sofra calado.
...Quem és tu para me chamares de irmã?

in "Não Choreis Meus Olhos"
de Maria Aliete Galhoz
.
.
22
Jul06

Um encontro

eva
22 de julho de 2006

Voando a rasar os prédios e árvores de uma cidade.
Está tudo a preto e branco ou, melhor dizendo, a cidade está cinzenta e matizada de preto e branco.
Descendo, vêem-se as ruas e algumas pessoas que passam de carro ou caminham de um lado para o outro.
Parece que está ali um homem, já velho, que lembra alguém conhecido. Está parado no meio do passeio e parece algo indeciso.
Uma bola de luz ergue-se no céu. É o amanhecer e, então, a luz vem pintar tudo o que alcança.
Aproximando-nos do velhote, percebe-se que está mesmo perdido pois não se lembra de chegar ali.
E também não sabe onde é o "ali".
Mas lembra-se de, em novo, ter vivido numa cidade parecida. Maios ou menos por ali era o prédio.
Notando a nossa presença, semelhante à dele e alheios aos outros todos que passam por nós indiferentes, resolve perguntar se podemos guiá-lo de volta.
De volta, não podemos.
Mais para além sim, é possível se ele quiser e desejar. A confiança fez lugar no encontro.
Seguimos então com mais um convidado.
O dia estava radioso de tolerância e luz.

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